Primeira Edicão

Sinopse: A Turma da Mônica deixou de ser turminha e se tornou um grupo de adolescentes. Mônica abandonou o vestido vermelho, a glutona Magali passou a apostar na alimentação balanceada, Cebolinha fala os erres (mas se perde quando está perto da Mônica, por quem tem uma queda), Cascão toma banho demorados e por aí vai.Mas, em meio a esse mundo, surge uma ameaça: uma velha feiticeira japonesa que está vinculada com um segredo ancestral dos pais dos meninos.Positivo/Negativo: Depois de um número zero distribuído gratuitamente como divulgação, chegou às bancas a primeira edição de Turma da Mônica Jovem, em que os Estúdios Mauricio de Sousa se apropriam do estilo mangá para criar uma aventura na qual seus personagens mais famosos são retratados como adolescentes.Desde seu anúncio, houve expectativa pelo seu lançamento: um misto de curiosidade e fetiche não só por conferir os velhos personagens submetidos à cultuada linguagem dos quadrinhos japoneses, mas também para vê-los ir além dos eternos sete anos de idade.O que não se sabia é que a revista traria outra revolução no universo da Mauricio de Sousa Produções: o crédito de autoria aos artistas que participaram da história. A mudança é radical. E, por sinal, é aguardada há muito mais tempo do que a própria versão mangá.Por décadas, por conta dos direitos autorais, Mauricio de Sousa não divulgou o nome dos artistas que participavam da elaboração de suas histórias. Em vez disso, publicava o nome dos colaboradores do estúdio no expediente da revista.Nesta edição, o crédito continua no expediente. Mas é diferente das outras publicações. Ele abre com a frase "Esta edição de Turma da Mônica Jovem contou com o talento dos artistas" e, depois dos dois pontos, não há uma miscelânea de nomes, e sim o nome dos responsáveis pelas diferentes etapas da revista.Foi isso que permitiu que, ao elencar os autores da edição, este resenhista não necessitasse usar o recurso de atribuir toda a criação a um genérico Estúdios Mauricio de Sousa.A mudança de atitude é mais que bem-vinda. Por mais que Mauricio de Sousa já tenha declarado seus motivos em diversas ocasiões, por mais que se restrinja apenas a uma revista, é uma mudança a ser celebrada - sempre com a esperança de que seja expandido para as outras revistas do grupo.A publicação dos créditos está longe de ser o único mérito de Turma da Mônica Jovem. Apesar do nome, medonho que é, a equipe dos Estúdios Mauricio de Sousa conseguiu um resultado bastante satisfatório, levando-se em consideração que é uma edição de estréia.Há uma série de pequenos problemas (já, já se volta a falar deles), mas todos são pontuais. O que importa, aqui, é que o tom geral da trama e da adaptação dos personagens mostra que o estilo mangá aplicado à Mônica tem potencial para render histórias divertidas.Turma da Mônica Jovem, afinal de contas, não é um título para ser lido com seriedade. Trata-se de uma brincadeira que reúne vários condicionais que evocam velhos fetiches dos leitores: e se a Mônica fosse adolescente? E se o Cebolinha, no fundo, tivesse uma queda pela baixinha, gorducha e dentuça? E se Mauricio de Sousa tivesse dado uma guinada pro mangá ao conhecer Osamu Tezuka?O mais bacana da revista é justamente misturar tudo isso e apresentar uma história insana, veloz, cheia de referências e com muito bom humor.Puristas, claro, têm tudo para torcer o nariz - sejam eles fiéis aos mangás ou à Mônica.Fãs de mangás dizem, e com razão, que não se trata de um mangá. O que a revista faz é pegar elementos dos quadrinhos japoneses e espalhar pelas páginas. Daí as caretas, os olhos grandes e brilhantes, o preto-e-branco, as texturas de fundo, os monstros e os samurais.Já os seguidores da Turma da Mônica argumentam, igualmente com razão, que isso tudo é um pastiche e que o original é muito mais bacana, que seu traço é mais autêntico, que Mauricio de Sousa é muito maior do que um punhado de clichês de mangás.Os dois grupos estão corretos. Mas parecem esquecer que Turma da Mônica Jovem não substitui nem os mangás nem os personagens originais. É apenas uma nova leitura em um formato diferente - uma experiência como um dia foram o parque de diversões, as peças de teatro, os discos de historinhas...Dividida em três capítulos, a revista começa com um longo segmento que apresenta os personagens reformulados aos leitores. Com ares de comédia romântica adolescente, é a melhor parte da publicação. Chama a atenção não só pela caracterização ágil e competente dos personagens, mas por uma cena que insinua que Cascão tornou-se assíduo no banheiro depois de descobrir a masturbação.A aventura com monstros místicos é esboçada nesse capítulo inicial com alguns elementos. Só começa pra valer na parte seguinte, e é quando a história perde um pouco de seu charme.A divisão entre os capítulos 1 e 2 é brusca, e o tom de aventura começa logo a seguir. O problema é que, ao menos neste início, a trama não consegue encantar. Ao se levar a aventura a sério, a HQ fica aquém dos bons mangás e das próprias histórias protagonizadas pela turma original.O maior destaque fica, portanto, para mais releituras de personagens: Professor Falconi (uma homenagem a Osamu Tezuka, mestre dos mangás e velho amigo de Mauricio), CéuBoy (o velho Anjinho, agora adolescente, faz referência ao Hellboy, de Mike Mignola), e Poeira Negra (o novo Capitão Feio - a bem da verdade, mais insosso que o original).O problema é que, pelo que de depreende da história, os próximos números prosseguirão enfocando justamente o lado mais fraco da HQ, o que pode vir a comprometer a série.É melhor acreditar, portanto, no texto que Mauricio de Sousa assina entre os capítulos 1 e 2. Nele, diz a equipe ainda está tateando na construção da Turma da Mônica Jovem. Resta torcer para que tomem um bom caminho.

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